UHF : A Minha Geração
Letras
1. A MINHA GERAÇÃO
A minha geração
acreditou em promessas,
Engrossou a procissão
foi indo na conversa.
Aceitou o futuro
como se fosse presente,
A cenoura e o burro
qual dos dois vai à frente.
A minha geração
deu tudo por uma casa,
Mistério e padrão
de uma vida hipotecada.
Encheu-se de rotinas
começou pelo casamento,
Uma vida preenchida
sem nada por dentro.
A minha geração, a minha geração.
A minha geração
ainda fuma um charro,
Essa espécie de refrão
que acende o passado.
Transferiu para os filhos
os sonhos adiados,
Chamou-lhe destino
nos versos de um fado.
A minha geração, a minha geração.
Trocou a felicidade
por bens de consumo,
A jura e a vontade
de querer mudar o mundo.
Jogou à cabra cega
deixou-se apanhar,
A vida é uma arena
onde nos querem lixar.
A minha geração, a minha geração
A minha geração.
2. A TIA DORINDA
A tia Dorinda
é tia roupão,
Já foi a mais linda
nas danças de salão.
A tia Dorinda
a tia roupão,
Vive de torradas
e muita televisão.
A tia Dorinda
de um loiro eterno,
Ainda salta à vista
armada de mistério.
A tia Dorinda
tem um afilhado,
Veio da província
rapaz muito calado.
A tia Dorinda
tem homem em casa,
Diz a má língua
de faca afiada.
A tia Dorinda
de um loiro eterno,
Ainda salta à vista
armada de mistério.
A tia Dorinda
tem a vida cheia,
Velhas intrigas
camadas de inveja.
A tia Dorinda
fatal e senhora,
Por trás das cortinas
num bairro de Lisboa.
A tia Dorinda
de um loiro eterno,
Ainda salta à vista
armada de mistério.
3. UM TIPO SINCERO
A minha vida não teve
um destino certo,
Só a fome e a sede
de quem vence o deserto.
A minha vida faz-se
um dia de cada vez,
Sob a luz do sol que arde
água fresca p'ra beber.
Sou o exemplo do que digo
sou um tipo sincero,
Desenhei o meu caminho
sem grande mistério.
A minha vida não tem
um destino certo,
Só a força de quem
vive os dias sem medo.
A minha vida faz-se
de coisas tão simples,
A canção que agora nasce
o teu sorriso sublime.
Sou o exemplo do que digo
sou um tipo sincero,
Desenhei o meu caminho
sem grande mistério.
Não há sorte nem azar
por capricho dos deuses,
Escolhe o caminho a tomar
não hesites tantas vezes.
Sou o exemplo do que digo
sou um tipo sincero,
Desenhei o meu caminho
sem grande mistério.
4. LILY CASOU À PRESSA
Lily casou à pressa
teve boda e karaoke,
Copo d'água em beleza
e dinheiro num envelope.
Mário tinha uma paixão
no tunning um amor,
Lily no coração
tatuada com ardor.
Lily casou à pressa
Lily queria uma festa.
Lily chegou a casa
mais cedo que o previsto,
Vinha farta e cansada
carente de carinho.
Do quarto do casal
uma mulher espreitava,
Se a história era banal
a vida era malvada.
Lily fugiu à pressa
Lily perdeu a cabeça.
Lily casou à pressa
foi branco o enxoval,
Uma festa singela
numa aldeia de Portugal.
Se Lily casou à pressa
veloz se separou,
Fugiu da sua terra
e da vida que um dia sonhou.
Lily casou à pressa
Lily teve uma festa.
5. JÁ NÃO SEI FUGIR
Se me desses de beber
e soubesses escutar,
O que tenho p'ra dizer
só me quero confessar.
Se pudesses só ouvir
se olhasses sem desejo,
Vim de longe a seguir
este homem no meu espelho.
Vem, vem, fica junto a mim
Vem, vem, já não sei fugir
Já não sei fugir.
Estou aqui e estou vazio
sigo o rumo dos meus passos,
É verão mas tenho frio
fecho os olhos de cansaço.
Estou colado à parede
e a porta está fechada,
Sinto o corpo ficar leve
definhar sem dar por nada.
Vem, vem, fica junto a mim
Vem, vem, já não sei fugir
Já não sei fugir.
6. SINAIS (PRESENTES DO TEMPO)
Se a porta está fechada
mete a porta dentro,
Se a coruja não diz nada
o falcão está atento.
São sinais do tempo
presentes a espreitar,
Sinais do silêncio
para nos guiar.
Se o rebanho está feliz
os lobos vão à caça,
Avestruz ou perdiz
sem penas tudo marcha.
São sinais do tempo
presentes a espreitar,
Sinais do silêncio
para nos guiar.
Mete a língua de fora
mostra os dentes e ri,
Se o mundo não aprova
corre com ele daqui.
São sinais do tempo
presentes a espreitar,
Sinais do silêncio
para nos guiar.
Se a porta está fechada
sai do lado de fora,
Tanta raiva amordaçada
e tanto ruído de sobra.
São sinais do tempo
presentes a espreitar,
Sinais do silêncio
para nos guiar.
7. VERNÁCULO (PARA UM HOMEM COMUM)
Estou cansado, pá, cansado e parado por dentro
sem vontade de escolher um rumo,
sem vontade de fugir, sem vontade de ficar.
Parei por dentro de mim, olho à volta e desconheço o sítio
as pessoas, a fala, os movimentos,
a tristeza perfilada por horários,
este odor miserável que nos envolve,
como se nada acontecesse e tudo corresse nos eixos.
Estou cansado destes filhos da puta que vejo passar,
idiotas convencidos que um dia um voto lançou pela tv,
e se acham a desempenhar uma tarefa magnífica.
Com requinte de filhos da puta, sabem justificar a corrupção
o deserto das ideias, os projectos avulso para coisa
nenhuma, a sua gentil reforma e as regalias.
Esses idiotas que se sentam frente-a-frente no ecrã
à hora do jantar para vomitar o escabeche
de um bolo de palavras sem sentido.
Filhos da puta, porque se eternizam,
se levam a sério e nos esmigalham o crânio
com as suas banalidades: "O sôtor, vai-me desculpar".
O que eu quero é mandá-los cagar para um campo
de refugiados qualquer, vê-los de Marlboro entre os dedos
a passear o esqueleto, entre os esqueletos,
naquela mistura de cheiros e cólicas que sufoca,
apenas e só - sufoca.
Estou cansado, cansado da rotina
Desta mentira que é a vida
Servida respeitosamente, com ferrete
Obediente, obediente.
Estou cansado de viver neste mesmo pequeno país
que devoram, escudados pelas desculpas
mais miseráveis. Este charco bafiento onde eles pastam.
Gordos que engordam, ricos que amealham sem parar,
idiotas que gritam, paneleiros que se agitam
de dedo no ar. Filhos da puta a dar a dar,
enquanto dá a teta da vaca do Estado.
Nada sabem de história, nada sabem porque nada lêem,
além da primeira página da Bola, o Notícias a correr
e o Expresso, porque sim! Nada sabem das ideias
do homem, da democracia, Atenas e Roma,
os Tribunos e as portas abertas, e a ética e o diálogo
que inventaram o governo do povo pelo povo.
Apenas guardam o circo e amansam as feras,
dão de comer à família até à diarreia,
aceitam a absolvição, e lavam as manipulas
na água benta da convivência sã, desde que todos
se sustentem na sustentação do sistema.
Contratualizem (oh neologismo) o gado miúdo,
enfatizem o discurso da culpa alheia
pela esquizofrenia politicamente correcta:
Quando gritam, até parece que se levam a sério,
mas ao fundo, na sacristia de São Bento,
o guião escrito é seguido pelas sombras vigentes.
Estou cansado, cansado da rotina
Desta mentira que é a vida
Servida respeitosamente, com ferrete
Obediente, obediente.
Estou farto de abrir a porta de casa e nada estoirar
como na televisão. Não era lá longe, era aqui mesmo,
barricadas, armas, pedradas, convulsão, nada,
não há nada. Os borregos, as ovelhas e os cabrões
seguem no carreiro como se nada lhes tocasse,
e não toca. A não ser quando o cinto aperta.
Mas em vez da guerra, fazem contas para manter a fachada:
Ah, carneirada! Vossos mandantes conhecem-vos
pela coragem e pela devoção na gritaria do futebol
a três cores, pelas vitórias morais de quem voa baixinho
e assume discursos inflamados sem tutano.
Estou cansado, cansado da rotina
Desta mentira que é a vida
Servida respeitosamente, com ferrete
Obediente, obediente.
Estou cansado, pá, sem arte, sem génio, cansado:
Aqui presente está a ementa e o somatório erróneo
do desempenho de uma nação, um abismo prometido
camuflado por discursos panfletários:
Morte aos velhos! Morte aos fracos!
Morte a quem exija decência na causa pública!
Morte a quem lhes chama filhos da puta!
E essa mãe já morreu de sífilis à porta de um hospital.
Mataram os sonhos, prenderam o luxo das ideias livres,
empanturraram a juventude de teclados para a felicidade
e as famílias de consumo & consumo,
até ao prometido AVC, que resolve todas as prestações:
Quem casa com um banco vive divinamente feliz,
e tem assistência no divórcio a uma taxa moderada
pela putibor. Estou cansado, pá,
da surdez e da surdina, desta alegria por porra nenhuma,
medida pelo sorriso de vitória do idiota do lado
quando te entala na fila e passa à frente.
É a glória única de muita gente, uma vida inteira...
Uh uh ah ah, eleitos, cuidem da oratória...
8. A SAUDADE É UMA RESSACA
Por ventura é assim
que a saudade se define,
Algo que chegou ao fim
que desperta e resiste.
Algo que ficou lá atrás
que renasce e me persegue,
Quando tudo o que há
de muito pouco serve.
A saudade é uma ressaca
difícil de curar,
Conversa comigo sem palavras
não pára de falar.
Pode ser uma canção
uma palavra perdida,
Rosto na multidão
que nos enche a vida.
Um assunto arrumado
uma mágoa só nossa,
A sombra do passado
que está de volta.
A saudade é uma ressaca
difícil de curar,
Conversa comigo sem palavras
não pára de falar.
A história tem um rosto
dias que guardo para mim,
A vida é feita aos poucos
a soma trouxe-me aqui.
A saudade é uma ressaca
difícil de curar,
Conversa comigo sem palavras
não pára de falar.
9. EM DEZEMBRO, MEU AMOR
Quis amar-te em dezembro
entre o fogo e o frio,
Acedi ao teu apelo
pude ser o teu amigo.
Fazes-me escrever canções
palavras esperam por ti,
Rascunho de emoções
que guardo só p'ra mim.
Por ti, quando quiseres
quando me chamares,
Sempre que vieres
em dezembro, meu amor.
De Cascais a Lisboa
eu ouvi as confisões,
De quem espera vida nova
mas adia decisões.
Se nas águas deste mar
o Sol brilha e descansa,
Vi na luz do teu olhar
um sorriso de criança.
Por ti, quando quiseres
quando me chamares,
Sempre que vieres
em dezembro, meu amor.
O longe fica perto
se quiseres lá chegar,
Um caminho secreto
que o amor sabe encontrar.
Por ti, quando quiseres
quando me chamares,
Sempre que vieres
em dezembro, meu amor.
10. '70
A minha geração
dançou rock and roll,
O tempo de um verão
que o tempo levou...
A minha geração
acreditou em promessas,
Engrossou a procissão
foi indo na conversa.
Aceitou o futuro
como se fosse presente,
A cenoura e o burro
qual dos dois vai à frente.
A minha geração
deu tudo por uma casa,
Mistério e padrão
de uma vida hipotecada.
Encheu-se de rotinas
começou pelo casamento,
Uma vida preenchida
sem nada por dentro.
A minha geração, a minha geração.
A minha geração
ainda fuma um charro,
Essa espécie de refrão
que acende o passado.
Transferiu para os filhos
os sonhos adiados,
Chamou-lhe destino
nos versos de um fado.
A minha geração, a minha geração.
Trocou a felicidade
por bens de consumo,
A jura e a vontade
de querer mudar o mundo.
Jogou à cabra cega
deixou-se apanhar,
A vida é uma arena
onde nos querem lixar.
A minha geração, a minha geração
A minha geração.
2. A TIA DORINDA
A tia Dorinda
é tia roupão,
Já foi a mais linda
nas danças de salão.
A tia Dorinda
a tia roupão,
Vive de torradas
e muita televisão.
A tia Dorinda
de um loiro eterno,
Ainda salta à vista
armada de mistério.
A tia Dorinda
tem um afilhado,
Veio da província
rapaz muito calado.
A tia Dorinda
tem homem em casa,
Diz a má língua
de faca afiada.
A tia Dorinda
de um loiro eterno,
Ainda salta à vista
armada de mistério.
A tia Dorinda
tem a vida cheia,
Velhas intrigas
camadas de inveja.
A tia Dorinda
fatal e senhora,
Por trás das cortinas
num bairro de Lisboa.
A tia Dorinda
de um loiro eterno,
Ainda salta à vista
armada de mistério.
3. UM TIPO SINCERO
A minha vida não teve
um destino certo,
Só a fome e a sede
de quem vence o deserto.
A minha vida faz-se
um dia de cada vez,
Sob a luz do sol que arde
água fresca p'ra beber.
Sou o exemplo do que digo
sou um tipo sincero,
Desenhei o meu caminho
sem grande mistério.
A minha vida não tem
um destino certo,
Só a força de quem
vive os dias sem medo.
A minha vida faz-se
de coisas tão simples,
A canção que agora nasce
o teu sorriso sublime.
Sou o exemplo do que digo
sou um tipo sincero,
Desenhei o meu caminho
sem grande mistério.
Não há sorte nem azar
por capricho dos deuses,
Escolhe o caminho a tomar
não hesites tantas vezes.
Sou o exemplo do que digo
sou um tipo sincero,
Desenhei o meu caminho
sem grande mistério.
4. LILY CASOU À PRESSA
Lily casou à pressa
teve boda e karaoke,
Copo d'água em beleza
e dinheiro num envelope.
Mário tinha uma paixão
no tunning um amor,
Lily no coração
tatuada com ardor.
Lily casou à pressa
Lily queria uma festa.
Lily chegou a casa
mais cedo que o previsto,
Vinha farta e cansada
carente de carinho.
Do quarto do casal
uma mulher espreitava,
Se a história era banal
a vida era malvada.
Lily fugiu à pressa
Lily perdeu a cabeça.
Lily casou à pressa
foi branco o enxoval,
Uma festa singela
numa aldeia de Portugal.
Se Lily casou à pressa
veloz se separou,
Fugiu da sua terra
e da vida que um dia sonhou.
Lily casou à pressa
Lily teve uma festa.
5. JÁ NÃO SEI FUGIR
Se me desses de beber
e soubesses escutar,
O que tenho p'ra dizer
só me quero confessar.
Se pudesses só ouvir
se olhasses sem desejo,
Vim de longe a seguir
este homem no meu espelho.
Vem, vem, fica junto a mim
Vem, vem, já não sei fugir
Já não sei fugir.
Estou aqui e estou vazio
sigo o rumo dos meus passos,
É verão mas tenho frio
fecho os olhos de cansaço.
Estou colado à parede
e a porta está fechada,
Sinto o corpo ficar leve
definhar sem dar por nada.
Vem, vem, fica junto a mim
Vem, vem, já não sei fugir
Já não sei fugir.
6. SINAIS (PRESENTES DO TEMPO)
Se a porta está fechada
mete a porta dentro,
Se a coruja não diz nada
o falcão está atento.
São sinais do tempo
presentes a espreitar,
Sinais do silêncio
para nos guiar.
Se o rebanho está feliz
os lobos vão à caça,
Avestruz ou perdiz
sem penas tudo marcha.
São sinais do tempo
presentes a espreitar,
Sinais do silêncio
para nos guiar.
Mete a língua de fora
mostra os dentes e ri,
Se o mundo não aprova
corre com ele daqui.
São sinais do tempo
presentes a espreitar,
Sinais do silêncio
para nos guiar.
Se a porta está fechada
sai do lado de fora,
Tanta raiva amordaçada
e tanto ruído de sobra.
São sinais do tempo
presentes a espreitar,
Sinais do silêncio
para nos guiar.
7. VERNÁCULO (PARA UM HOMEM COMUM)
Estou cansado, pá, cansado e parado por dentro
sem vontade de escolher um rumo,
sem vontade de fugir, sem vontade de ficar.
Parei por dentro de mim, olho à volta e desconheço o sítio
as pessoas, a fala, os movimentos,
a tristeza perfilada por horários,
este odor miserável que nos envolve,
como se nada acontecesse e tudo corresse nos eixos.
Estou cansado destes filhos da puta que vejo passar,
idiotas convencidos que um dia um voto lançou pela tv,
e se acham a desempenhar uma tarefa magnífica.
Com requinte de filhos da puta, sabem justificar a corrupção
o deserto das ideias, os projectos avulso para coisa
nenhuma, a sua gentil reforma e as regalias.
Esses idiotas que se sentam frente-a-frente no ecrã
à hora do jantar para vomitar o escabeche
de um bolo de palavras sem sentido.
Filhos da puta, porque se eternizam,
se levam a sério e nos esmigalham o crânio
com as suas banalidades: "O sôtor, vai-me desculpar".
O que eu quero é mandá-los cagar para um campo
de refugiados qualquer, vê-los de Marlboro entre os dedos
a passear o esqueleto, entre os esqueletos,
naquela mistura de cheiros e cólicas que sufoca,
apenas e só - sufoca.
Estou cansado, cansado da rotina
Desta mentira que é a vida
Servida respeitosamente, com ferrete
Obediente, obediente.
Estou cansado de viver neste mesmo pequeno país
que devoram, escudados pelas desculpas
mais miseráveis. Este charco bafiento onde eles pastam.
Gordos que engordam, ricos que amealham sem parar,
idiotas que gritam, paneleiros que se agitam
de dedo no ar. Filhos da puta a dar a dar,
enquanto dá a teta da vaca do Estado.
Nada sabem de história, nada sabem porque nada lêem,
além da primeira página da Bola, o Notícias a correr
e o Expresso, porque sim! Nada sabem das ideias
do homem, da democracia, Atenas e Roma,
os Tribunos e as portas abertas, e a ética e o diálogo
que inventaram o governo do povo pelo povo.
Apenas guardam o circo e amansam as feras,
dão de comer à família até à diarreia,
aceitam a absolvição, e lavam as manipulas
na água benta da convivência sã, desde que todos
se sustentem na sustentação do sistema.
Contratualizem (oh neologismo) o gado miúdo,
enfatizem o discurso da culpa alheia
pela esquizofrenia politicamente correcta:
Quando gritam, até parece que se levam a sério,
mas ao fundo, na sacristia de São Bento,
o guião escrito é seguido pelas sombras vigentes.
Estou cansado, cansado da rotina
Desta mentira que é a vida
Servida respeitosamente, com ferrete
Obediente, obediente.
Estou farto de abrir a porta de casa e nada estoirar
como na televisão. Não era lá longe, era aqui mesmo,
barricadas, armas, pedradas, convulsão, nada,
não há nada. Os borregos, as ovelhas e os cabrões
seguem no carreiro como se nada lhes tocasse,
e não toca. A não ser quando o cinto aperta.
Mas em vez da guerra, fazem contas para manter a fachada:
Ah, carneirada! Vossos mandantes conhecem-vos
pela coragem e pela devoção na gritaria do futebol
a três cores, pelas vitórias morais de quem voa baixinho
e assume discursos inflamados sem tutano.
Estou cansado, cansado da rotina
Desta mentira que é a vida
Servida respeitosamente, com ferrete
Obediente, obediente.
Estou cansado, pá, sem arte, sem génio, cansado:
Aqui presente está a ementa e o somatório erróneo
do desempenho de uma nação, um abismo prometido
camuflado por discursos panfletários:
Morte aos velhos! Morte aos fracos!
Morte a quem exija decência na causa pública!
Morte a quem lhes chama filhos da puta!
E essa mãe já morreu de sífilis à porta de um hospital.
Mataram os sonhos, prenderam o luxo das ideias livres,
empanturraram a juventude de teclados para a felicidade
e as famílias de consumo & consumo,
até ao prometido AVC, que resolve todas as prestações:
Quem casa com um banco vive divinamente feliz,
e tem assistência no divórcio a uma taxa moderada
pela putibor. Estou cansado, pá,
da surdez e da surdina, desta alegria por porra nenhuma,
medida pelo sorriso de vitória do idiota do lado
quando te entala na fila e passa à frente.
É a glória única de muita gente, uma vida inteira...
Uh uh ah ah, eleitos, cuidem da oratória...
8. A SAUDADE É UMA RESSACA
Por ventura é assim
que a saudade se define,
Algo que chegou ao fim
que desperta e resiste.
Algo que ficou lá atrás
que renasce e me persegue,
Quando tudo o que há
de muito pouco serve.
A saudade é uma ressaca
difícil de curar,
Conversa comigo sem palavras
não pára de falar.
Pode ser uma canção
uma palavra perdida,
Rosto na multidão
que nos enche a vida.
Um assunto arrumado
uma mágoa só nossa,
A sombra do passado
que está de volta.
A saudade é uma ressaca
difícil de curar,
Conversa comigo sem palavras
não pára de falar.
A história tem um rosto
dias que guardo para mim,
A vida é feita aos poucos
a soma trouxe-me aqui.
A saudade é uma ressaca
difícil de curar,
Conversa comigo sem palavras
não pára de falar.
9. EM DEZEMBRO, MEU AMOR
Quis amar-te em dezembro
entre o fogo e o frio,
Acedi ao teu apelo
pude ser o teu amigo.
Fazes-me escrever canções
palavras esperam por ti,
Rascunho de emoções
que guardo só p'ra mim.
Por ti, quando quiseres
quando me chamares,
Sempre que vieres
em dezembro, meu amor.
De Cascais a Lisboa
eu ouvi as confisões,
De quem espera vida nova
mas adia decisões.
Se nas águas deste mar
o Sol brilha e descansa,
Vi na luz do teu olhar
um sorriso de criança.
Por ti, quando quiseres
quando me chamares,
Sempre que vieres
em dezembro, meu amor.
O longe fica perto
se quiseres lá chegar,
Um caminho secreto
que o amor sabe encontrar.
Por ti, quando quiseres
quando me chamares,
Sempre que vieres
em dezembro, meu amor.
10. '70
A minha geração
dançou rock and roll,
O tempo de um verão
que o tempo levou...
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